Ao desembarcar no Brasil no ano de 1886, o imigrante italiano Pietro Bettú, nascido em 1842, em Scandolara, na província de Cremona, Lombardia, instalou-se com sua família no município de Garibaldi, no Rio Grande do Sul. Ele não poderia imaginar que seus descendentes manteriam o lote de terra adquirido e que evoluiriam tanto na arte de elaborar vinhos.
Poucos registros existem daquela época, mas sabe-se que foi necessário trabalhar arduamente para conseguirem erguer a casa que serviu de abrigo à família, e também para colherem da terra seu sustento. Seguindo o histórico bíblico, ele e seus familiares conviveram com parreirais, trigo e vinho, sendo que foi no ano de 1889 que plantaram suas primeiras videiras no Lote 8 da Estrada Geral (Buarque de Macedo) do Primeiro Distrito de Garibaldi. A variedade cultivada naquela época era a Isabel e as mudas foram adquiridas de imigrantes alemães que habitavam próximos a esta região. Cabe destacar que esta cepa é originária dos Estados Unidos e foi enviada de Washington para cá por ordem do rio-grandense Marcos Lisboa, em 1839. As centenárias videiras resistiram ao tempo e até hoje, generosas, nos oferecem seus frutos, ao lado da modesta casa que foi construída e que ainda permanece no local.
Naquele tempo, a forma de condução dos parreirais era latada, porém, no lugar dos fios de arame de aço foram utilizadas estacas de madeira obtidas através da abertura de toras de araucárias. Mais tarde a estrutura de sustentação de madeira foi substituída por arame de aço. Este arame, muito desgastado pela corrosão, ainda é o responsável pela sustentação dos parreirais de Isabel.
Filho de Pietro, Dionigi Ferdinando Bettú casou-se com Joana Soldi e herdou a propriedade, sendo que suas irmãs se deslocaram para outras localidades. Ferdinando manteve a tradição do cultivo da uva e da elaboração de vinhos durante toda sua vida, tendo sido um dos sócios fundadores da Cooperativa Vinícola Garibaldi. Faleceu aos 64 anos, deixando a esposa e doze filhos, que passaram a administrar a propriedade. Gradativamente, os filhos de Ferdinando transferiram-se para outras localidades, permanecendo somente Augusto Bettú no lote da família.
Augusto formou-se em Teologia e estava destinado a ser padre, porém esta não era sua vocação. Casou-se com Maria de Lourdes Sandrin, e com ela teve sete filhos. Da terra colhia os alimentos para a família e comercializava a maior parte das uvas que produzia, chegando em determinado período a integrar o quadro de associados na cooperativa local. O estilo de vida era bastante comedido e alicerçado na devoção ao catolicismo, e sempre havia vinho na mesa. À medida em que foram crescendo, os filhos de Augusto seguiram seus caminhos em outras direções.
Após muito trabalhar, foi somente em 1999 (quase um século depois de terem sido cultivadas as primeiras videiras neste solo) que o primogênito de Augusto, Vilmar Bettú, iniciou o projeto que mudaria sua vida para sempre: apostou na elaboração de um vinho Isabel de qualidade. Este vinho, que inicialmente seria utilizando apenas para consumo próprio, acabou sendo vendido por um valor muito acima da média, e decidiu aplicar o mesmo princípio de qualidade na elaboração de vinhos finos, empregando a pisa das uvas como grande diferencial. Assim nascia a marca Bettú.
Vilmar Bettú levou adiante o projeto com a ajuda de sua esposa e filhas. Desde então ele comanda a Vinhos Bettú, e está transmitindo seus conhecimentos às filhas Larissa e Catenca – que pertencem à quinta geração da família Bettú - preservando assim a história de seus antecessores e perpetuando o amor pela arte de elaborar vinhos de excelência.
Os Vinhos Bettú trazem em sua essência as lágrimas, o suor, a alegria e a história de uma família que sempre acreditou no poder da terra e na força da liberdade. E que, acima de tudo, refletem a alma de seu criador. Basta sorver um gole de vinho para nos transportar no tempo e entender que foram a coragem e o amor dos que aqui viveram antes de nós, que nos permitiram chegar onde estamos.
Saúde.
“Cada vinho é único. E busco entregar o melhor em cada garrafa elaborada. As variedades que utilizo não nascem da necessidade de seguir padrões, normas, ou atender demandas do mercado. Todas, indistintamente, são escolhidas atendendo minha curiosidade de experimentar novos sabores, e também, por sua qualidade no momento da colheita – maturação, sanidade e sabor - pois só assim é possível gerar vinhos excepcionais. Não tenho a pretensão de ser o melhor do mundo, mas tenho ciência de que meus vinhos agradam a paladares muito exigentes. E quero preservar meu espírito criativo, para surpreender mesmo os que já me conhecem.” – Vilmar Bettú
Elaborados à moda antiga, os vinhos de Vilmar Bettú nascem a partir de microvinificações, cujas quantidades são bastante limitadas. Todas as uvas utilizadas no processo são pisadas, garantindo assim uma identidade exclusiva.
Cabe destacar que a pisa das uvas não é uma atração, mas sim um sério método ancestral cujas vantagens se refletem nos vinhos: a suavidade com que os grãos são esmagados pelos pés não destroem as sementes e engaços, o que garante a ausência de características indesejáveis que resultam ao se esmagar as uvas de forma mecânica. Bem pelo contrário: o processo confere distintos aromas e sabores aos vinhos desta forma elaborados.
Outro aspecto relevante é a ausência de filtragens e de clarificações: os Vinhos Bettú passam somente pelo processo natural de decantação através do controle da temperatura e do estágio em recipientes por um longo tempo antes de serem envasados, preservando assim as características de forma íntegra.
Rolhas naturais de elevada qualidade são imprescindíveis quando se elabora vinhos com elevado potencial de guarda, e por isso selecionamos criteriosamente nossos fornecedores.
Acreditamos que o conteúdo de cada garrafa é o que as torna únicas, e terá sempre importância superior a dos adereços utilizados. Consequentemente, preferimos manter a simplicidade em nossos rótulos e garrafas.
Respeitar a natureza, seus ritmos e ciclos, é nosso princípio.
Aliar métodos tradicionais aos tecnológicos, focados no resultado final, é nosso ofício.
Ter paciência para dar o tempo que cada vinho necessita para revelar-se, é nossa arte.
Viver de forma harmônica, em meio à natureza e com acesso a excelentes vinhos, é nossa realidade.
Honrar nossa história e escrever o futuro, livre de amarras, é nossa filosofia.
Sermos reconhecidos por tudo isso, é nossa conquista mais importante.
Descendente de imigrantes italianos, Vilmar Bettú é o personagem icônico da Vinícola Bettú, e elabora seus vinhos de forma artesanal, mantendo a tradição da pisa das uvas aliada a modernas técnicas de vinificação. A qualidade excepcional de seus produtos e as agradáveis horas de conversa durante as visitas, são os principais fatores responsáveis pela consagração da marca. Somada a isto está a paisagem exuberante da propriedade da família Bettú, situada em Garibaldi – RS, desde 1.886, onde parreirais centenários testemunham o transcorrer da história que se escreve neste chão, mesclando suor, amor e vinho. Venha nos visitar e descubra porque nossos vinhos são tão especiais.
Definido por muitos como o “mago do vinho”, “alquimista” ou como a “lenda do vinho brasileiro”, Vilmar Bettú é um vinhateiro irreverente e excêntrico, que encanta aos mais exigentes paladares com seus vinhos. Por ser o primogênito em uma família de sete filhos, e para realizar o sonho de seu pai Augusto - cuja devoção ao catolicismo era muito forte -, Vilmar foi enviado muito cedo para o seminário em Vila Flores, a fim de que se tornasse padre Capuchinho. Sua primeira atitude importante foi a de pedir para abandonar o seminário, apesar de ter apenas 8 anos de idade. Esta insubordinação moldaria sua personalidade. E o menino cresceu curioso, rebelde e questionador, avesso às proibições impostas por uma religião que não o representava. Com seu pai e irmãos, trabalhava no cultivo da terra, colhendo dela seu sustento. E de todas as atividades, a que mais lhe aprazia era a elaboração de vinhos. Fascinava-o acompanhar a transformação das uvas no precioso líquido, que era presença infalível na mesa da família. Mesmo tendo sido impedido de frequentar a escola (castigo por não ter se curvado à fé), recebeu de seu pai aulas de português, matemática e geografia. A partir disso, tornou-se autodidata e aos 17 anos estreou no mundo escolar, quando prestou exame para admissão no Ginásio, que correspondia ao Ensino Médio que temos hoje. Em 1973 ingressou no curso de Engenharia Mecânica da Unisinos em São Leopoldo-RS, trabalhando como estagiário para poder pagar a faculdade. Anos de muita dedicação seguiram-se e, depois de trilhar os mais diversos caminhos, casou-se em 1977 com Salete Carraro e com ela teve duas filhas. Após muitos estudos, em 1980 Vilmar recebeu o diploma de Engenheiro Mecânico. Foi o primeiro dos filhos de Augusto a concluir o ensino superior. Trabalhou como Engenheiro Mecânico e Professor de Física, mas foi junto às videiras que encontrou sua verdadeira missão: a de elaborar grandes vinhos. E é exercendo esta atividade que ele se realiza pessoal e profissionalmente. É o amor que ele dedica a seus vinhos que os tornam tão únicos e especiais. Suas garrafas refletem seu espírito livre e audacioso. Deguste para entender.